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| <![CDATA[<p style="text-align:justify"><strong>Por Lauro Portela</strong></p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">No alto de uma colina, uma igreja neogótica se destaca na paisagem urbana de Cuiabá. Geminado, um pouco mais antigo, o Seminário da Conceição. Aquela, do início do século XX; esta última, de meados do XIX. Afora estas duas construções, há ainda nas fraldas do morro do Bom Despacho (hoje, morro do Seminário), nos lados sudeste e sul, o Palácio Episcopal, onde também é sediada a Mitra Arquidiocesana de Cuiabá, e o Centro Educacional “Maria Auxiliadora” (CEMA). De frente, a nordeste, a Praça do Seminário e a Santa Casa de Misericórdia, onde há uma capela dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Referências quase tão antigas quanto a velha cidade monçoeira.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">O atual templo foi erguido no lugar de outro, bem mais singelo, que nasceu com a ocupação da margem esquerda do córrego da Prainha. Faz invocação a Nossa Senhora do Bom Despacho das Almas, uma das denominações de Maria, na fé católica, que intercede junto a Deus aos implorantes de boa sentença diante do seu julgamento. Santa de origem portuguesa, cuja devoção começou no arraial do Cuiabá por volta de 1726. Abrigava, além da imagem de Nossa Senhora do Bom Despacho, as imagens de São Bento e de Santa Rita, hoje ausentes. Tão simples era a velha capela, que o Seminário da Conceição, erguido em 1858, casarão assobradado com janelões imponentes, tirou da Santa o topônimo do morro.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">O novo templo foi ideia do líder franciscano frei Ambrósio Daydèe. O padre Inácio Gau indicou o arquiteto francês Leòn Joséph Louis Mousnier, conde de Manoir – o mesmo da Matriz de Cáceres. A demolição da antiga Capela ficou a cargo do padre Alexandre Trebaure. A pedra fundamental da nova igreja foi lançada a 8 de setembro de 1918, data dedicada a Maria. Entre as personalidades notáveis da Cuiabá de então estavam o bispo e presidente de Mato Grosso Dom Aquino Corrêa da Costa, o Arcebispo Dom Carlos d’Amour, Frei Ambrósio Daydèe, a jovem Maria de Arruda Müller, Estevão de Mendonça, que redigiu a ata da bênção da pedra fundamental, a pianista Bartira de Mendonça, o arquiteto responsável Leòn Mousnier, entre outros. Os recursos para a obra vieram das economias do Arcebispo d’Amour, além das quermesses e outros empenhos da população cuiabana.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">Sua inauguração seria no centenário da independência, em 1922, mas não estava terminada, então. No bicentenário da antiga capela, em 1926, faltavam alguns detalhes. Mais que isso: faltava-lhe a torre, até hoje nunca construída. A “excelsa rainha de Cuiabá”, como frei Ambrósio se referia à sua obra, jamais foi “coroada” com a sua torre do projeto original.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">Ao longo dos anos, as diversas reformas descaracterizaram aquilo que o franciscano da Ordem Terceira Regular havia concebido, originalmente. Seus tijolinhos à mostra representavam essa humildade que o frei Ambrósio Daydèe quis legar em sua obra. O reboco foi aplicado entre 1955 e 1956, na primeira reforma promovida pelo Bispo Auxiliar Dom Campelo de Aragão. No lugar do piso original um mosaico de ladrilhos hidráulicos. Em 1986, a Fundação Cultural (precursora da Secretaria de Estado de Cultura) terminou de rebocar toda a Igreja. A última reforma, entre 2003 e 2004, não se propôs restaurá-la.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">Mesmo “despida” de seu projeto original, a Igreja jaz num mistério: a provável existência de um túnel. A suspeita de tal passagem se deve a uma fuga ocorrida, em 1906, durante a luta armada entre os coronéis da Guarda Nacional Antônio Paes de Barros, então presidente de Mato Grosso, e Generoso Ponce aliado a Pedro Celestino Corrêa da Costa. Durante a derrocada de seu governo e à espera do auxílio federal, Totó Paes, como também era conhecido o presidente, se refugiou no Seminário da Conceição, onde foi cercado pelos guardas nacionais e capangas leais a Ponce. Como o auxílio federal, liderado pelo coronel do Exército Dantas Barreto demorava a chegar, o coronel presidente escapou, no dia 2 de julho de 1906, apesar de toda vigilância oposicionista, se refugiando na antiga Fábrica de Pólvora do Coxipó do Ouro (a 30km de distância dali), onde fora assassinado na madruga de 6 de julho. É provável que tenha se valido de alguma passagem secreta que ligasse o Seminário ao córrego da Prainha ou ao Beco do Urubu (atual Rua “Comendador Henrique”). De qualquer maneira, os freis Ambrósio Daydèe e Carlos Vallet (responsáveis pela instituição à época) nunca revelaram como Totó conseguiu passar pelas tropas poncistas.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify"> ;</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify"><strong>Referências</strong></p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">MATOS, Alex de. <em>Templos Secretos</em>: história e arquitetura sagrada das igrejas neogóticas de Mato Grosso. Cuiabá: [Editora do autor], 2011.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">PORTELA, Lauro Virginio de Souza. <em>Alianças e disputas políticas:</em> os primeiras anos da “política dos governadores” em Mato Grosso (1899-1906). 2006, 86f. Monografia (Graduação em História) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.</p>]]>
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| <![CDATA[<p style="text-align:justify">MEIRA, Soely Maria de. <em>Patrimônio e Escola:</em> o Centro Histórico de Cuiabá e as práticas educativas no ensino de história. 2018, 166f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Mestrado Profissional em Ensino de História em Rede Nacional – Núcleo Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.</p>]]>
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