172
| <![CDATA[<p style="text-align:justify"><strong>Por Lauro Portela</strong></p>]]>
|
174
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">O processo de espacialização que deu origem à atual cidade de Cuiabá foi impulsionado pelas descobertas auríferas no veio d’água chamado posteriormente de Prainha, em 1722. A gradual constituição do adensamento urbano formado pelos que se dispuseram a minerar nas Lavras do Sutil não foi desordenado. Se a terra dos achados auríferos era antes território indígena, era, pois, necessário torná-lo “terra da conquista”, ou seja, parte do Império Português e, portanto, subordinado às suas instituições seculares e religiosas. O lugar privilegiado destas instituições é o espaço urbano. Central, deste modo, no sentido de organização do que viria a ser o espaço urbano do Cuiabá, é a igreja do Bom Jesus.</p>]]>
|
176
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">O lugar escolhido para sua construção seguiu as “Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia”. Assim, em fins de 1722, à margem direita do córrego da Prainha, com sua frente voltada para este e entre dois afluentes (os hoje soterrados córregos Cruz das Almas, sob a Avenida “Generoso Ponce”, e da Mandioca, sob a Rua Voluntários da Pátria) o templo foi erguido por obra do paulistano Jacinto Barbosa Lopes. Foram respeitados os espaços em seu entorno para permitir que as procissões a pudessem circundar e em seu adro, os poderes coloniais se instalaram: a casa do Ouvidor (onde está atualmente a sede dos Correios e Telégrafos), a Cadeia (a primeira é de 1724), a Casa de Câmara, a residência, além da residência construída para o governador e capitão-general de São Paulo Rodrigo César de Menezes, em 1726 – que veio para estas paragens especialmente para fundar a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá ; a 1.º de janeiro, dia do Senhor Bom Jesus, de 1727, implantando o Pelourinho, símbolo da liberdade municipal, fazendo funcionar a Câmara com sua vereança, responsável pelo governo do “termo”, ou jurisdição, dentro do qual se localizava o rossio da vila ou cidade.</p>]]>
|
178
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">O arruamento de Cuiabá é outro indicador da centralidade da Igreja: Rua de Cima (atual “Pedro Celestino”, Rua de Baixo (atual calçadão da Rua “Galdino Pimentel”), Rua Nova do Meio (atual Calçadão da Rua “Ricardo Franco”), Rua Direita têm como referência o templo.</p>]]>
|
180
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">Em 1723, com a criação da freguesia, a Igreja foi elevada à Matriz do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Em 1729, a imagem de devoção dos cuiabanos chega ao Porto Geral. O Senhor Bom Jesus de 1,5m foi esculpido por artesã, em Sorocaba, e atravessou o caminho monçoeiro até a Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. Os cabelos que a adornam foram doados por uma tal Babuia, como sacrifício da graça alcançada.</p>]]>
|
182
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">À construção primeira de pau-a-pique e cobertura vegetal, substituiu outra, em 1739-40, em taipa, graças aos esforços esmoleres do vigário João Caetano. Sua primeira torre com sino e com o topo em forma de pirâmide, construída em 1769, ruiu, sendo substituída por outro campanário no mesmo estilo, em 1772. A torre foi modificada, em 1868, sendo substituída por uma de topo arredondado. A próxima reforma, que irá descaracterizar completamente o estilo original se dará, em fins da década de 1920, durante a presidência estadual de Mário Corrêa da Costa. Este, com anuência do bispo Dom Aquino Corrêa, durante a reforma urbana para modernizar a capital, alterou toda a fachada (agora com duas torres e um relógio central) e o antigo Largo da Matriz, retirando-lhe o Cruzeiro centenário e fazendo a Praça da República em estilo <em>art nouveau</em>.</p>]]>
|
184
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">É possível dizer que a primeira descaracterização tenha sido a renomeação do adro da Igreja (Largo e depois Praça da Matriz chegando a ser chamado de Praça “Dom Carlos d’Amour”, em homenagem ao bispo de então) para Praça da República como forma de desagravo pelos protestos do bispo D. Carlos d’Amour contra a entrada da bandeira do Brasil República com o lema positivista “Ordem e Progresso” durante uma missa celebrada por ocasião do passamento do presidente Afonso Pena, em 1910. A mudança de nome significou retirar parte daquilo que sempre foi da Igreja. A estas duas descaracterizações seguiram a destruição total: uma, em 1956, com a demolição parcial e, outra, em 1968, a total.</p>]]>
|
186
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">A ânsia por se firmar como moderna e, portanto, merecedora da posição de centro político de Mato Grosso levou as autoridades políticas e eclesiásticas a tratarem o colonial como sinônimo de atraso. Os intentos modernizadores estiveram presentes em Cuiabá desde o final dos anos 1920, e a velha Catedral Matriz foi considerada ultrapassada. O projeto de demolição e construção do novo templo foram tocados pelo então arcebispo Dom Orlando Chaves. Neste período, sob o olhar altivo do Bom Jesus, o corpo eclesiástico local foi se desfazendo de peças barrocas, sendo vendidas ao antiquário Nóbrega, no Rio de Janeiro. O novo templo, agora em estilo moderno, ficou pronto em 1973, depois de quase duas décadas de demolições e reconstruções.</p>]]>
|
188
| <![CDATA[<p style="text-align:justify"> ;</p>]]>
|
190
| <![CDATA[<p style="text-align:justify"><strong>Referências</strong></p>]]>
|
192
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">LACERDA, Leila Borges de. O Senhor Bom Jesus de Cuiabá. Tradição inventada – Igreja Edificada. A visita de Getúlio Vargas à Cuiabá: júbilo cívico e culto à personalidade. Cuiabá, <em>Revista UNICIÊNCIAS</em>, v. 4, n. 1, 2000, p. 144-157.</p>]]>
|
194
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">LACERDA, Leila Borges de. Edificação, transformações e demolição da Catedral do Senhor Bom Jesus do Cuiabá. In ROSA, Carlos Alberto Rosa & JESUS, Nauk Maria de (orgs.). <em>A terra da conquista</em> - História de Mato Grosso colonial. Cuiabá, Ed. Adriane, 2003, p. 169-185.</p>]]>
|
196
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">MORAES, Sibele de. <em>O Episcopado de D. Carlos d’Amour (1878-1921). </em>2003, 142f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História do Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cuiabá.</p>]]>
|
198
| <![CDATA[<p style="text-align:justify">ROSA. Carlos Alberto. O urbano colonial na terra da conquista. In ROSA, Carlos Alberto Rosa & JESUS, Nauk Maria de (orgs.). <em>A terra da conquista</em> - História de Mato Grosso colonial. Cuiabá, Ed. Adriane, 2003, p. 11-64.</p>]]>
|